domingo, 17 de abril de 2016

Relato da Juh uma menina hoje luta sempre pra ser melhor do que aquilo que viveu !!!

Vamos falar sobre silêncio. Vamos falar sobre o que não é falado, que nunca foi citado, sobre o grito entalado e sobre palavras que não sabem como serem ditas. 
Mas antes, vou contar a história de uma menina de 6 anos que um dia levantou no meio da aula e pediu para a professora um absorvente pois estava menstruada. A professora ficou chocada, não sabia reagir, era impossível uma menina de 6 anos estar menstruada. Meio desconcertada a professora levou a menina para sala da direção.
Quando perguntaram para a menina se ela sabia o que era menstruação ela respondeu com toda naturalidade do mundo "claro que sei, é quando sai sangue pela xoxotinha". Ao ouvir isso, metade dos funcionários que se encontravam na recepção da diretoria correram para suas salas para não caírem no riso na frente da menina, eles queriam evitar que ela ficasse constrangida. Uma das professoras foi com a menina no banheiro para ver se realmente havia sangue na calcinha, e de fato havia, mas não parecia nada preocupante. 
Ela conversou com a menina e explicou que ela não estava menstruada, que provavelmente ela deveria ter caído ou batido em algum lugar e se machucou. A menina não lembrava de ter se machucado, mas se adultos dizem que é verdade, verdade é. A direção do colégio só comentou esse episódio com a mãe 2 semanas depois. 
Essa menina estava pedindo socorro, mas o grito silencioso dela foi ignorado. O pedido de ajuda foi confundido com vontade de ser gente grande. Apostaram na inocência dela e esqueceram da maldade de quem vivia em volta, essa menina de 6 anos, estava sendo abusada sexualmente pelo pai. 
Quero que você preste atenção na idade dela, SEIS ANOS, e quero que você resgate as suas lembranças nessa idade. Feito isso, se coloque no lugar dessa criança, se imagine com 6 anos sendo acariciada pelo papai antes de dormir. Dói né? Mas não dói nem metade do que dói em mim, porque essa história é minha, e eis meu grito entalado. Talvez eu não vá falar sobre o silêncio, o que eu preciso agora é quebrar o silêncio. 
Pedofilia existe, e pedofilia é silenciosa. Ela acontece quando ninguém vê, ela age em cima do medo e acaba com a cabeça de um ser humano. Aprendi tudo errado, tesão é amor, medo é respeito, a negação foi minha maior aliada e a culpa minha guia. Dói, dói na alma, e eu sei que por mais que eu chore essa dor não vai passar, eu vou me acostumar com ela, mas ela nunca vai passar. Uma vez que você perde o domínio do seu corpo saber o seu espaço é muito difícil. 
As marcas do abuso são tão profundas que criam "traços de personalidade", pessoas abusadas se reconhecem, quem sabe o que isso causa enxerga rapidinho nos outros. Eu consigo, depois de uma certa convivência, identificar o abuso em outra pessoa, do mesmo jeito que já identificaram o abuso em mim varias vezes, somos um clubinho secreto da dor. Somos aqueles que por muito tempo não gritaram, somos fruto do nosso passado, somos sobreviventes. 
Mas eu não estou aqui para chorar as minhas dores, eu quero alertar para algo que acontece e que é difícil de reconhecer. Se naquele dia na escola, alguém tivesse falado para a minha mãe sobre o ocorrido, ela teria me levado no médico e isso poderia ter me salvado de mais 14 anos nas mãos do meu pai. 
Então, quando se trata de crianças, observe, vá além do lógico. Eu gritei por socorro a minha vida toda, mas todos achavam que eu só queria atenção, eu tinha o que falar, só não sabia como. As crianças demonstram, as vezes de uma maneira não muito nítida, mas demonstram. Veja além do óbvio, interprete o que não foi falado



Abuso e violência " NÃO"

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