A morte do ator Walmor Chagas, na última sexta-feira, revela uma
triste realidade no país: a alta taxa de idosos que dão fim à própria
vida.
Estima-se que cerca de 9.000 pessoas se suicidam por ano - o que dá
uma média de 24 casos por dia. A taxa, que mede o número de mortes a
cada 100 mil habitantes, é de 4,5, bem inferior a países como Japão e
EUA (34,1 e 10,4, respectivamente).
Mas o Brasil esconde variações significativas. Entre as mulheres, a
taxa oficial é de 1,9. Já entre os homens é de 7,1. Entre idosos acima
de 75 anos, o índice passa dos 15.
As taxas elevadas entre os mais velhos ocorrem no mundo todo. Há
vários fatores associados, como a perda de parentes referenciais,
sobretudo do cônjuge, solidão, existência de enfermidades degenerativas e
dolorosas, sensação de estar dando muito trabalho à família e ser um
peso morto, abandono, entre outros.
Para ambos os sexos, os principais fatores de risco são a depressão e
transtornos mentais. No caso dos homens, a solidão e o isolamento
social são os principais fatores associados. São nessas questões,
especialmente na identificação e tratamento da depressão, é que estão
focadas as ações de prevenção.
Muitos estudiosos consideram que as mulheres se suicidam menos porque
têm redes sociais de proteção mais forte e se engajam mais facilmente
do que os homens em atividades domésticas e comunitárias, o que lhes
conferiria um sentido de participação até o final da vida.
ESTUDO
Recente estudo
da Escola Nacional de Saúde da Fiocruz tentou compreender as razões e
as circunstâncias dos suicídios entre idosos acima de 60 anos. Segundo o
trabalho, 54% dos municípios brasileiros já registraram casos de
suicídios nessa faixa etária. Dos 50 municípios brasileiros com os
índices mais elevados de mortes, 90% estão no Sul. Outra constatação foi
que 51% dos suicídios de idosos ocorrem em casa.
Outro ponto da pesquisa que chama a atenção: 67% dos idosos que
cometeram suicídio estavam em atendimento em serviços de atenção
primária nos últimos 30 dias de vida e até meia semana antes de
cometerem o ato. Isso mostra o quanto é preciso intensificar programas
de atenção ao idoso e seus familiares no sistema de saúde.
Os pesquisadores também constataram que famílias, parentes e amigos
muitas vezes não levam a sério as intenções de suicídio, mesmo quando
explicitadas verbalmente. E, no caso dos idosos, elas podem ser mais
rapidamente colocadas em prática do que entre os mais jovens.
Outro ponto importante é cuidar do impacto do suicídio entre
familiares e amigos. "O suicídio impacta o sistema familiar e a rede de
amigos, produzindo rupturas nos laços afetivos e sociais, o que pode
provocar o isolamento de pessoas, parentes e amigos, limitando ou
cerceando trocas que seriam fundamentais para o reequilíbrio do grupo
familiar", escreveram os pesquisadores.
"A amargura que afeta parentes e amigos deve ser vista cuidadosamente
pela área da Saúde, pois o "desastre afetivo-social" precisa ser
acompanhado com instrumentos adequados para cuidar do sofrimento
daqueles que sobreviveram e que irão conviver com essa história ao longo
da vida."
Folha de São Paulo
23/01/2013 - 07h36
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha,
especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela
PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da
University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde
pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias
em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não
vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações".
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