A entrada de uma criança no
mercado de trabalho é motivada por diferentes fatores. Alguns se relacionam
diretamente com a situação da família e outros são motivos exteriores a ela. A
pobreza, a falta de perspectivas dadas pela escola e a demanda por mão de obra
infantil são fatores que estimulam a entrada da criança ou adolescente no
mercado de trabalho. Em cada realidade, os fatores têm diferentes pesos.
Pobreza e perfil familiar - Um dos fatores centrais
de estímulo ao trabalho
infantil é a pobreza. Em famílias de baixa renda, há maior
chance de as crianças e adolescentes terem que trabalhar para complementar a
renda dos pais.
O auxílio na renda familiar é
mais determinante na entrada no mercado de trabalho para crianças mais novas.
Com o aumento da idade, o consumo próprio passa a ter um peso maior nessa
decisão. Ainda nestes casos, o trabalho infantil vem suprir as deficiências
familiares em prover acesso ao lazer e aos bens de consumo, o que ainda é
manifestação da vulnerabilidade social.
Outras características familiares
que aumentam a propensão ao trabalho infantil são a grande quantidade de filhos
e a baixa escolaridade dos pais.
Má qualidade da educação - Ao começar a trabalhar, a
criança tem seus estudos prejudicados ou até mesmo deixa a escola. Aí entra
outro fator que favorece o trabalho infantil: educação de má qualidade. Se os
pais ou as próprias crianças têm a percepção de que a escola não agrega ou que
oferece poucas perspectivas de melhoras na condição de vida, aumenta a
probabilidade de abandoná-la e ingressarem no mercado de trabalho precocemente.
Essa situação é mais nítida no ensino médio, onde a principal causa da evasão escolar é o desinteresse dos adolescentes.
Naturalização - O modo como a sociedade
enxerga o trabalho infantil também influencia a decisão sobre entrar no mercado
de trabalho. Em locais onde o trabalho precoce é mal visto, famílias são
desestimuladas a colocarem os filhos a trabalhar. Entretanto, se o trabalho de
crianças é visto como algo natural ou até mesmo positivo, não há essa barreira
durante a tomada de decisão. A construção desse modo de pensar tem raízes
também na desigualdade social brasileira, cuja origem podemos retraçar até
nosso passado colonial escravocrata.
Trabalho para a própria família – Para diminuir ou cortar
gastos com a contratação de funcionários, crianças e adolescentes podem ser
levados a realizar trabalhos domésticos em suas próprias casas. Assim, os pais
podem realocar seu tempo desenvolvendo outras atividades. As famílias podem
também empregar os próprios filhos em suas empresas ou propriedades rurais.
Trabalho para terceiros - O trabalho
infantil também pode ser encontrado em empresas não familiares
e há diversos motivos que podem levar a isso. A mão de obra de crianças é mais
barata, mais administrável (ou seja, é fácil de administrar (por ser mais
difícil que as crianças reclamem pelos seus direitos) e muitas vezes as
crianças não têm consciência dos perigos da atividade e realizam trabalhos que
adultos teriam mais restrições. Situações de escassez de mão de obra (como
períodos de colheita) podem levar à contratação de crianças.
A informalidade do mercado é um
fator importante nesse contexto de demanda de trabalho infantil. Quando a
economia é mais formal, o trabalho infantil tende a diminuir já que as empresas
devem cumprir os requisitos legais de contratação e estão sujeitas a
fiscalizações e sanções.
Ainda não há consenso entre os
estudiosos sobre o peso de cada um desses itens na escolha da família ou da
própria criança ou adolescente em começar a trabalhar. Cada realidade e
contexto têm suas características próprias o que pode fazer com que algum fator
seja mais preponderante que outros na decisão.
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