Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) apresentado da manhã desta quarta-feira (25) mostra que a implantação
da Lei Maria da Penha não causou o impacto desejado na redução da morte de
mulheres decorrentes de conflitos de gênero no país.
Segundo a pesquisa, apresentada em audiência da
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, ocorrem 5.000
casos de feminicídio (assassinato de mulheres) por ano no Brasil.
Assassinatos de mulheres a cada
100 mil habitantes
Ano
|
Número
de mulheres assassinadas
|
2001
|
5,41
|
2002
|
5,46
|
2003
|
5,38
|
2004
|
5,24
|
2005
|
5,18
|
2006*
|
5,02
|
2007
|
4,74
|
2008
|
5,07
|
2009
|
5,38
|
2010
|
5,45
|
2011
|
5,43
|
- Fonte: Ipea
- * Ano de promulgação da lei
O Ipea avalia que de 2001 até 2011, 50 mil mulheres
foram assassinadas no Brasil. No período de 2001-2006, antes da implantação da
Lei Maria da Penha, a taxa de mortalidade de mulheres no Brasil foi de 5,28 por
100 mil. No período de 2007-2011, o índice ficou em 5,22 por 100 mil. A lei foi
promulgada em 7 de agosto de 2006.
Leila Garcia, pesquisadora do Ipea, diz que a falta
de aplicação da Maria da Penha é o grande problema. " Ainda não existem
mecanismos de proteção necessários para a mulher que foi buscar ajuda. Em
muitos casos, a mulher foi denunciar o parceiro e, posteriormente, foi
assassinada", diz.
Para a pesquisadora, o grande problema está na aplicação da lei. "A lei em si é boa, mas não está sendo aplicada com exatidão em alguns lugares do Brasil", diz. Ela aponta que outros projetos de lei podem ajudar a proteger as mulheres. "Novos projetos são necessários para reforçar a proteção. Um deles é a tipificação do crime de feminicídio no Brasil", afirma.
O projeto de lei (PLS 292/2013) sobre o assunto está em tramitação na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Senado, é de iniciativa da CPMI da Violência contra a Mulher e prevê penas mais pesadas para quem comete assassinato contra mulheres no Brasil. O feminicídio seria um agravante para crime.
Os parlamentares que estavam presentes na sessão mostraram espanto com o número de assassinatos de mulheres no Brasil. O presidente da CSSF da Câmara, Dr. Rosinha (PT-PR), diz que os números refletem uma cultura no Brasil que precisa ser mudada. "Nunca vi no Brasil, um homem ser condenado por feminicídio. A única vez que vi foi na Argentina, quando um homem foi condenado pela tentativa de feminicídio. É preciso chamar atenção para este tipo de crime", diz.
Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha, promulgada no dia 7 de agosto
de 2006, criou mecanismos para coibir a violência doméstica contra a mulher.
Entre esses mecanismos está o aumento das punições em casos de agressões a
parceiros
Elcione Barbalho (PMDB-PA) fala que o desrespeito
contra as mulheres vem muitas vezes de quem deveria proteger: "Há um
descompasso generalizado na aplicação da lei. Em alguns casos, a polícia chega
a abusar das mulheres que vão às delegacias para denunciar um homem".
Ela afirma que há reclamação de falta de recursos
para aplicar a Maria da Penha. "No Pará, estamos colocando todo o
judiciário para tentar aplicar a lei, mas sempre escutamos que não temos
recursos", reclama.
Perfil dos crimes
O estudo também aponta que 40% das mortes de
mulheres foram cometidas por parceiros íntimos. O índice é 6,6 vezes maior do
que o número de assassinatos cometidos por parceiras contra parceiros.
Em relação às condições em que o crime foi
cometido, metade das mortes foram realizadas com arma de fogo, 36% ocorreram
nos fins de semana e 30% ocorreram em vias públicas. A grande maioria das
vítimas é de mulheres negras (60%) e de 20 e 39 anos (54%).
O que é feminicídio
É a morte de mulher que decorre de conflito de
gênero cometidos por homens (geralmente parceiros). Em suma, é o crime em que a
mulher é assassinada "por ser mulher". Normalmente, o feminicídio
está ligado a outros crimes, como o estupro
Leila Garcia, pesquisadora do Ipea, chama atenção
para o perfil das vítimas: "São mulheres que estão deixando órfãos, força
de trabalho, estão em idade fértil. Está prejudicando a sociedade como um
todo", aponta.
O Estado com maior número de assassinatos de
mulheres é o Espírito Santo. De acordo com o estudo, o Estado tem índice de
11,24 assassinatos de mulheres por 100 mil habitantes. Outros Estados com
maiores números de feminicídios são a Bahia (9,08 por 100 mil) e Alagoas (8,84
por 100 mil).
O Estado com o menor número de registros é o Piauí,
com 2,71 assassinatos por 100 mil. De acordo com o Ipea, isso não significa que
a violência é menor lá. "O índice pode significar que não há a coleta
correta de dados no Piauí. A consequência é que há uma subestimação desses
índices", diz Garcia.
Edgard
Matsuki
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
25/09/2013
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