Marcelo Tas
O fim do casamento gera “traumas de guerra” numa
população além do casal: amigos, avós, irmãos, tias... e, principalmente, os
filhos, que se veem impelidos a ocupar um dos dois lados de uma batalha da qual
eles nunca pediram para entrar!
É trágico. A relação mal resolvida continua assim
na hora de acabar. Há uma grande chance dos filhos se tornarem,
desgraçadamente, uma arma perversa para manter, mesmo que inconscientemente, as
feridas dessa “guerra” sangrando indefinidamente.
“Alienação Parental” é um termo para o conjunto de
estratégias de mães ou pais separados para afastar os filhos de seus
ex-companheiros. As táticas têm em comum desacreditar e desgastar a figura do
genitor “alienado”, cerceando a comunicação ou manipulando fatos. Mais insano
do que isso é acreditar na ingenuidade e ignorância dos filhos.
Meu primeiro casamento chegou ao fim depois de
quase dez anos. Foi uma decisão difícil, dolorosa e inevitável para ambos. Faz
tempo mas ainda lembro com clareza da angústia crescente em como comunicar o
fato à nossa filha, na época com 6 anos. Depois de muito confabular, eu e
Cláudia, minha ex-companheira, desenhamos uma argumentação e um discurso
bonito. Aceitei a árdua incumbência de transmitir a notícia.
Nesta vida, eu já montei em cavalo bravo, caminhei
sozinho na floresta amazônica à noite e até saltei de asa-delta... Mas nunca
havia sentido tamanho frio no estômago diante de uma tarefa. Depois de alguns
adiamentos, tomei coragem e disse:
– Luiza, papai precisa falar uma coisa com você.
Ela largou imediatamente o que estava fazendo, pulou sobre mim no sofá e enfiou
os olhões dela bem direto nos meus.
– Pode falar.
– Bem... Papai e mamãe se conheceram, se gostaram
tanto que nasceu você. Agora, a gente ainda se gosta mas não o suficiente para
continuarmos casados. Não é que a gente brigou, mas vamos ter que nos
separar...
– Eu já sabia disso. Mas... Por que você não se
muda para o apartamento de cima? Ontem, ouvi o zelador dizer que ele está vago!
Foi um choque de sinceridade e afeto que eu
precisava para enfrentar aquela nova fase da vida. Nada foi fácil, mas hoje
percebo melhor a fundamental importância da transparência desencadeada pela
nossa própria filha desde o minuto zero. Ao contrário do que acontece nos casos
de “Alienação Parental” – doença que agora é crime no Brasil –, mantivemos os
canais de comunicação, inclusive o das más notícias, abertos. Sem fazer do
filho peça valiosa de troca.
Vamos combinar: fim de um casamento é um drama de
proporções épicas e primitivas. Disputa-se, na maioria das vezes de forma
irracional, posições privilegiadas no “campo de batalha” e recursos materiais
como numa guerra de verdade.
Os filhos são os que mais armazenam as informações
desse drama. Principalmente as não reveladas com a devida transparência.
Crianças são lentes de aumento da realidade. Têm radares muito mais poderosos e
sofisticados que adultos. O ministério da saúde mental adverte: a “Alienação
Parental” é um tiro no coração e outro no pé.
MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três
filhos: Luiza, 23 anos, Miguel, 10, e Clarice, 6. É âncora do “CQC” e
autor do Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa
coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário