De certo que sempre existiram palmadas e
castigos corretivos, porém, não é por isso que devam continuar sendo
naturalizados e/ou ignorados. Percebe-se, que na prática cotidiana a
instituição família tem tomado um significado bastante diferente, digamos que
por hora distorcida até. Tida como núcleo responsável de socialização dos indivíduos, onde se é transmitido
valores, hábitos e costumes, contribuindo na formação de personalidades,
espera-se que esta seja fonte de repartição de afetos e papéis sociais.
Entretanto o que se tem visto infelizmente em diversos lares é proliferação do ciclo de violência; onde o pai ainda é o que detém o poder, em cima
da mãe, e dos demais da família, muitas das vezes o mesmo que abusa dos filhos,
não muito distante a mãe também que agride, e que negligência.
Então,
como o estado não se atentar para tal situação?
O texto
de Ana Maria Lencarelli trás uma valiosa reflexão a cerca do significado oculto
das múltiplas facetas da violência intrafamiliar, segundo ela e concordando
“totalmente” está implícito no ato da palmadinha e acrescento de qualquer outro
ato de violência “um prazer profundo pelo poder da posse do corpo dos filhos” ,
uma “distorção da maternidade: saiu do meu corpo, é meu”.
É um
grande engano os pais acharem que através da autoridade que se ganhará o
respeito de seus filhos, muito pior através do abuso desse poder de “ser pai” e
de “ser mãe” Os adultos estão deixando de dizer “Te Amo”, de ensinar, de educar
e cada vez mais gritante exercendo o poder segundo sua arbitragem.
Inconscientemente
ou não se esquecem de que sua negligência terá uma consequência no amanha. “Os
que apanham em casa, são os autores do bullyng na escola”, e consequentemente
vão proliferando o ciclo de violência nas suas demais relações, inclusive na
construção da sua família mais tarde. Assim como fazem seus pais, eles fazem na
escola, a menina faz nas bonecas e por ai vai.
Em contraponto a
total necessidade do estado e todos nós nos atermos a tal realidade em que tem
vivido muitas crianças em nosso país, o autor Denis Lerrer Rosenfield, critica tal poder do Estado ao se introduzir
na vida familiar, “do estado saber o que seria melhor para as famílias”. Talvez
o estado não saiba mesmo o que é melhor para cada família, porém, quando esta
família que “acredita está educando por meio de força e de autoridade” não mais
consegue resolver seus conflitos a quem elas recorrem? Ao Estado.
Em seu texto ele continua a contribuir para a naturalização da violência
intrafamiliar contra crianças onde ele fala “(...) a que ponto pode chegar a atuação do Estado, se um freio não for posto
à sua ação, e ele começa em casos tão anódinos como o de uma “palmadinha”.
Está ai o grande impasse dessa discussão que
traz essa lei sobre que prevê a interdição do castigo físico. Muitos ainda
pensam que é “apenas uma palmadinha”, vista pelo autor como “anódina”, ou seja,
paliativa, que
tem
a propriedade de acalmar, sem
importância.
É necessário pensarmos que da “palmadinha” vem agressões muito mais severas. A naturalidade que os castigos domiciliares e
as agressões físicas têm tido na nossa sociedade necessita urgentemente ser
repaginada, questionada e discutida com total complexidade como tem tal
assunto.
Acredito que a
referida lei vem tentando inserir uma discussão que ainda tem muito a
percorrer, e que infelizmente ainda continuará por algum tempo como discussão e
reflexão. Porem ela ainda precisa avançar no que diz aos tipos de violência,
porque ela apenas critica e tenta coibir a violência física, e a psicológica
que é ainda mais silenciosa e invisível? Esta merece total visibilidade tanto
quanto a violência física.
Fica o meu apelo
quanto profissional e mulher, que futuramente mãe, que cada um ade nós possamos
estar contribuindo com tal reflexão do fim da palmadinha e de qualquer outro
tipo de castigo humilhante. Cada um fazendo um pouco teremos sim um pais mais
igualitário.
Bater,
gritar e humilhar sempre causou e continuará causando danos permanentes à mente
em formação – como a de uma criança.
Laylla Lorena Fontes
*Psicóloga,
Pós-graduanda em nível de aperfeiçoamento em Impactos da violência na saúde.
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