terça-feira, 13 de novembro de 2012


Sobre a tão famosa Palmadinha...




De certo que sempre existiram palmadas e castigos corretivos, porém, não é por isso que devam continuar sendo naturalizados e/ou ignorados. Percebe-se, que na prática cotidiana a instituição família tem tomado um significado bastante diferente, digamos que por hora distorcida até.  Tida como núcleo responsável de socialização dos indivíduos, onde se é transmitido valores, hábitos e costumes, contribuindo na formação de personalidades, espera-se que esta seja fonte de repartição de afetos e papéis sociais. Entretanto o que se tem visto infelizmente em diversos lares é proliferação do ciclo de violência; onde o pai ainda é o que detém o poder, em cima da mãe, e dos demais da família, muitas das vezes o mesmo que abusa dos filhos, não muito distante a mãe também que agride, e que negligência.
Então, como o estado não se atentar para tal situação?
O texto de Ana Maria Lencarelli trás uma valiosa reflexão a cerca do significado oculto das múltiplas facetas da violência intrafamiliar, segundo ela e concordando “totalmente” está implícito no ato da palmadinha e acrescento de qualquer outro ato de violência “um prazer profundo pelo poder da posse do corpo dos filhos” , uma “distorção da maternidade: saiu do meu corpo, é meu”.
É um grande engano os pais acharem que através da autoridade que se ganhará o respeito de seus filhos, muito pior através do abuso desse poder de “ser pai” e de “ser mãe” Os adultos estão deixando de dizer “Te Amo”, de ensinar, de educar e cada vez mais gritante exercendo o poder segundo sua arbitragem.
Inconscientemente ou não se esquecem de que sua negligência terá uma consequência no amanha. “Os que apanham em casa, são os autores do bullyng na escola”, e consequentemente vão proliferando o ciclo de violência nas suas demais relações, inclusive na construção da sua família mais tarde. Assim como fazem seus pais, eles fazem na escola, a menina faz nas bonecas e por ai vai.
Em contraponto a total necessidade do estado e todos nós nos atermos a tal realidade em que tem vivido muitas crianças em nosso país, o autor Denis Lerrer Rosenfield, critica tal poder do Estado ao se introduzir na vida familiar, “do estado saber o que seria melhor para as famílias”. Talvez o estado não saiba mesmo o que é melhor para cada família, porém, quando esta família que “acredita está educando por meio de força e de autoridade” não mais consegue resolver seus conflitos a quem elas recorrem? Ao Estado.
Em seu texto ele continua a contribuir para a naturalização da violência intrafamiliar contra crianças onde ele fala “(...) a que ponto pode chegar a atuação do Estado, se um freio não for posto à sua ação, e ele começa em casos tão anódinos como o de uma “palmadinha”.
Está ai o grande impasse dessa discussão que traz essa lei sobre que prevê a interdição do castigo físico. Muitos ainda pensam que é “apenas uma palmadinha”, vista pelo autor como “anódina”, ou seja, paliativa, que tem a propriedade de acalmar, sem importância.
É necessário pensarmos que da “palmadinha” vem agressões muito mais severas.  A naturalidade que os castigos domiciliares e as agressões físicas têm tido na nossa sociedade necessita urgentemente ser repaginada, questionada e discutida com total complexidade como tem tal assunto.
Acredito que a referida lei vem tentando inserir uma discussão que ainda tem muito a percorrer, e que infelizmente ainda continuará por algum tempo como discussão e reflexão. Porem ela ainda precisa avançar no que diz aos tipos de violência, porque ela apenas critica e tenta coibir a violência física, e a psicológica que é ainda mais silenciosa e invisível? Esta merece total visibilidade tanto quanto a violência física.
Fica o meu apelo quanto profissional e mulher, que futuramente mãe, que cada um ade nós possamos estar contribuindo com tal reflexão do fim da palmadinha e de qualquer outro tipo de castigo humilhante. Cada um fazendo um pouco teremos sim um pais mais igualitário.
Bater, gritar e humilhar sempre causou e continuará causando danos permanentes à mente em formação – como a de uma criança.

 Laylla Lorena Fontes


*Psicóloga, Pós-graduanda em nível de aperfeiçoamento em Impactos da violência na saúde.



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