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Leitura de fatos violentos publicados na mídiaAno 12, nº 02, 18/04/2012 |
No primeiro mês do ano, os bancários da Bahia lançaram uma nota à
imprensa demonstrando as suas preocupações relativas aos frequentes casos de
assaltos às agências do Estado. De acordo com o documento, “só nos primeiros 15
dias de janeiro de 2012 oito agências foram assaltadas”, duas delas na capital
e as outras em cidades do interior. A categoria reivindica mais segurança para
funcionários e clientes, informando que estes crimes, em 2011, levaram à morte
de 49 pessoas em todo o País.
O volume de
assaltos a banco noticiado sugere um aumento incontrolável de casos, dando-se
clara demonstração que este tipo de ação criminosa “descobriu” lugares pequenos
e pacatos como espaços adequados para estes “investimentos”. Pelas narrativas
jornalísticas, tem sido possível observar certas características que se tornam comuns
nas ações. O grupo é grande, chega em carros possantes e espaçosos; tem o
cuidado de criar obstruções nas estradas que dão acesso à cidade, usando, por
exemplo, o incêndio de veículos sobre as vias de acesso à cidade para impedir a
chegada de socorro vindo de outros locais. Este procedimento evidencia que os
criminosos se supõem capazes de neutralizar a segurança pública disponível no
local a ser assaltado.
Outro aspecto que se tem repetido é um toque de provocação às autoridades locais e à sociedade. Um exemplo dessa prática foi verificado no assalto da agência do Banco do Brasil da cidade de Baixa Grande, em 5 de janeiro desse ano. De acordo com as notícias, 12 homens chegaram à cidade em um Honda Civic e em um Honda Mitsubishi, atirando para o alto; em seguida, uma parte foi arrombar a agência bancária e outra ficou com pistolas, escopetas e submetralhadoras apontando para as pessoas. Como tem sido normal, os criminosos saíram do banco com o cofre, o gerente e mais dois funcionários da agência e foram embora da cidade atirando e cantando parabéns para um integrante da quadrilha que aniversariava. Os reféns foram obrigados a cantar e bater palmas para o homenageado e é nestas salvas que reside o aludido toque de provocação.
Em 29 de
fevereiro desse ano, as agências do Banco do Brasil e do Bradesco foram
“reassaltadas” (foi a segunda vez em Amargosa), através da mesma modalidade que
tem assumido espectro de modelo de assalto típico dos bancos das pequenas
cidades. Mais uma vez no script se
incluem os carros possantes, muitos homens armados (oito), queima de automóvel,
sequestro de funcionários do banco.
Observando-se
algumas imagens do evento que foram registradas, em sua maior parte por
celulares e disponibilizadas na internet, é possível verificar uma
característica que sugere a familiaridade de muitos moradores com a ocorrência.
Em algumas cenas, notam-se pessoas que se encontram pela rua e passam a
acompanhar o acontecimento, tecendo comentários explicativos sobre a sequência
dos atos. Em vez de apavoradas, elas se mostram curiosas, tornando excitante o episódio.
E quando os ladrões começam a jogar moedas pela rua, eles não se intimidam,
correm em direção às pratinhas, se abaixam e começam a catá-las, não obstante
as armas, os tiros e um carro em chamas a poucos metros. As cenas dão a
impressão de incorporação do evento pela cidade, pelos seus habitantes. E não
são poucos os que aplaudem os atos finais do “ritual” na rua ocupada pela ação
dos malfeitores. Embora aquele adeus envolva, invariavelmente, sequestros de
pessoas da cidade, as cenas não sugerem aflição, provavelmente porque os
residentes já conhecem o script e
sabem que os raptos têm a função de garantir a fuga da quadrilha que, mais
adiante, se desvencilha dos reféns e dos carros, tomando destino desconhecido
através de outros veículos roubados.
Causa
incômodo a desproporciona-lidade entre a segurança local e o modelo de ação
criminosa, cujo ingrediente básico é a surpresa, à semelhança da visita que
chega de repente e pega desprevenida a família, que fica desapontada por não
poder eliminar as falhas e as carências do viver cotidiano. Ao final, para relaxar, todos ficam à vontade
e sorriem até dos apertos, dos apuros, das desilusões.
Informações
vindas de Amargosa dão conta, também, de certo aprendizado das tramas dos
assaltos por habitantes da localidade. A parte prática está em estágio avançado
e, portanto, em plena vigência na cidade. Diariamente, sem carros grandes ou
armas potentes, alguns moradores adotaram práticas de assalto contra o comércio
local e já está se tornando difícil encontrar um pequeno comércio sem a
história do assalto próprio para declarar.
As lições dos
assaltos bem sucedidos e cinematográficos podem fascinar. E a reapresentação
dos atos pode dar confiança e ânimo aos interessados ou vulneráveis aos
convites de ingresso na carreira do crime.
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